Os valores da cultura de paz e não-violência é um compromisso de todos com o sofrimento do outro. A solidariedade e a resolução pacífica de conflitos levam-me a pensar na massificação da violência como uma epidemia para a saúde pública. Baseando-se neste argumento creio que esta situação da violência acaba por representar uma derradeira ruptura, afastando as pessoas pelo medo, preconceito e ódio, tornando impossível a congregação em movimentos sociais transformadores. A epidemiologia da violência é um caso de saúde pública.
Nós que trabalhamos na saúde encontramos nas ruas, nos hospitais, nas farmácias ambulatórios de saúde mental os mais perversos efeitos da violência, traduzida em morte e em sofrimento intenso e prolongado. A impossibilidade de salvar vidas jovens, que jamais deveriam estar em risco, à necessidade de curar feridas no corpo e na alma de crianças, mulheres e idosos vitimados, de tratar de trabalhadores doentes pela exposição a riscos desnecessários, fez com que pesquisadores e trabalhadores de saúde se debruçassem sobre o fenômeno da violência e compreendessem seu caráter epidêmico, transdisciplinar e intersetorial (Minayo e Souza, 2003; Ministério da Saúde, 2004; Peres, 2004).
O Brasil é um desses países onde a violência exerce impacto significativo sobre o campo da saúde o ponto de inflexão situa-se na década de 1980, que apresentou crescimento de cerca de 29% na proporção de mortes violentas,
passando estas a constituir a segunda causa no obituário geral, abaixo, apenas, das doenças cardiovasculares. Os acidentes de trânsito e os homicídios respondem por mais da metade das mortes por violência, sendo baixa a incidência de outros eventos (suicídios e demais acidentes).
A morbidade por violência é difícil de ser mensurada, seja pela escassez de dados, seja pela imprecisão das informações geradas através dos boletins de ocorrências policiais, seja pela pouca visibilidade que têm determinados tipos de agravos, ou ainda pela multiplicidade de fatores que envolvem atos violentos.
Seja como for, qualquer esforço interdisciplinar só tem sentido no terreno prático, onde os profissionais de saúde possam somar colaborações interinstitucionais e intersetoriais e buscar apoio da sociedade civil.
Num âmbito mais restrito, é fundamental o diálogo entre a saúde pública e os segmentos que atuam na defesa da violência, numa atividade intersetorial entre as relações de saúde e outros setores, as ações coletivas demandam entendimento com a educação, os serviços de promoção social, a justiça, a segurança pública, o ministério público, o poder legislativo, executivo e, sempre, com os movimentos sociais. Cultivar uma cultura de paz na saúde é zelar pela vida. Fontes: Eduardo Jorge Martins Alves Sobrinho; Rose Marie Inojosa; Minayo M. C. de S. Souza.
Milton Antonio Leitão – CRFSP11 973 – Farmacêutico Bioquímico – Diretor das Farmácias FormulAtiva Mil